quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Pastores apóstolos

O texto a seguir foi retirado da seção Consultório do site da Revista Vigiai e Orai.

Consulta
É correto, como vemos hoje na maioria das igrejas “G12”, os pastores "subirem de cargo" e virarem apóstolos?

Stefane Joice de Oliveira Coutinho, Volta Redonda-RJ


Atendimento
É interessante como no meio das igrejas neo-modernas tem surgido tanta “coisa nova”. É tanta novidade que mal o povo assimilou uma e já surge outra. O que me deixa estupefato é que um conhecedor das Escrituras (o que cada crente deveria ser) logo vê que estes modismos carecem de apoio bíblico. São citados versículos fora do contexto e o texto é forçado para se encaixar nos propósitos, nem sempre nobres, de tais pessoas. Eles mesmos se dão títulos com o intuito de alimentar sua megalomania, para impressionar e pressionar os incautos. Afinal de contas, quem ousaria questionar um apóstolo? Eles querem que os seus seguidores se submetam a eles no mesmo nível dos apóstolos Pedro, Paulo etc.

Nestes quase dois mil anos da história da igreja, houve um consenso de que o ofício apostólico deixou de existir, tendo cessado com a morte daqueles verdadeiros apóstolos comissionados diretamente pelo Senhor Jesus.

No Novo Testamento há dois sentidos básicos para a palavra apóstolo. Um mais amplo e outro mais restrito. No sentido amplo apóstolo significa enviado. Neste sentido qualquer pessoa enviada através da igreja para uma tarefa missionária poderia ser chamada de apóstolo. Isto se deve ao fato de que a palavra grega “apóstolos” significa: “enviado”, “mensageiro, “delegado”. O substantivo apóstolo e o verbo grego enviar são correlatos. Assim sendo, neste sentido mais amplo, não teria problemas em se aceitar que qualquer cristão possa vir a ser um apóstolo (enviado).

Contudo, no Novo Testamento, o sentido mais comum é o restrito, referindo-se ao grupo seleto dos apóstolos do Senhor Jesus. A palavra grega da qual traduzimos apóstolo aparece 80 vezes no Novo Testamento grego. Destas 80 ocorrências, 73 vezes ela tem o sentido restrito e o sentido mais amplo (enviado) ocorre somente 5 vezes (cf. (Jo 13:16; 2 Co. 8:23; Fl. 2:25; At. 14:4 e 14). Aparece também 3 vezes onde pode há alguma dificuldade exegética podendo ter um ou outro sentido (At 14:4,14; Rm 16:7).

É o obvio ululante que os tais apóstolos modernos não se dão este título no sentido mais amplo e sim no mais restrito, querendo colocar-se em pé de igualdade e de autoridade apostólica com os doze apóstolos do Senhor Jesus, o que é um absurdo.

Qual era o critério para a escolha de um apóstolo?

Temos algumas passagens no NT que nos apontam as qualificações para ser um dos apóstolos (no sentido restrito da palavra):

Precisava receber o comissionamento diretamente do Senhor Jesus.

"E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes" (Lc 10:13-16a). Os apóstolos foram escolhidos pelo Senhor Jesus em pessoa.

Mesmo Paulo (o apóstolo nascido fora do tempo - cf. I Co 15:8), recebeu seu comissionamento apostólico do Senhor Jesus (Gl 1:1; I Tm 1:1).


Para ser um apóstolo era preciso ser testemunha ocular do ministério,morte e ressurreição do Senhor Jesus.

"É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição" (At 1:21,22).

"Até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas. A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus" (At 1:2,3)

Além dos 12, apenas mais duas pessoas foram chamadas de apóstolos. Uma é Paulo e a outra é Tiago, o irmão do Senhor. Paulo afirma que foi testemunha ocular da ressurreição de Cristo: “Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (I Co 9:1). Depois o mesmo Paulo afirma que Tiago também viu ao Senhor ressureto: “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos” (I Co 15:7).
Depois de ver estas evidências bíblicas podemos perguntar: “qual dos atuais apóstolos e, pasmem, apóstolas se encaixam nos critérios bíblicos para se ser um apóstolo? A resposta é óbvia. Obvio também é o fato de que esta mania não passa de invenção de gente que faz de tudo para exaltar-se a si mesmo como porta-vozes diretos de Deus. Depois da morte do último dos apóstolo, ninguém mais na igreja primitiva foi colocado como Apóstolo.

Ontem (24/08/2005) recebi um texto sobre uma campanha financeira mirabolante e o autor de tal campanha se auto-intitula paipóstolo. Não consegui saber o que exatamente significa tal título, mas suponho que ele queira ser o pai dos apóstolos dos ministérios ligados a ele. Este mesmo Senhor se declarava apóstolo para o Brasil e América Latina.

O paipóstolo disse ter sido “Reconhecido como apóstolo por três placas presenteadas pelos Governos Municipal, Estadual e Federal”. E tem mais: “O Governo Estadual, na pessoa do Dr. Amazonino Mendes, colocou na placa que o reconhecimento do meu ministério apostólico não era só para Manaus. Era para o Brasil e todas as nações. Isso, dentro do meu Estado, me respalda para que daqui saiamos para as nações, por uma questão de autoridade e reconhecimento, pois a Bíblia diz: respeite e considere as autoridades constituídas.”

Agora nos perguntemos: qual dos apóstolos bíblico precisou de reconhecimento político para respaldar sua autoridade apostólica? Isso é só para que você veja, minha querida irmã, até onde vai a capacidade de distorcer que tais pessoas possuem.

Poderia ter respondido sua pergunta com uma negativa bem direta, mas quis deixar bem claro a petulante baboseira que é esta onda de apóstolos, apóstolas e, por último, paipóstolo.

Não me assustaria nem um pouco se daqui a uns tempos surgirem títulos tais como Apóstolo Supremo, Senhor das Igrejas, Semi-Divino etc.

Desconheço tais apóstolos e nem por um segundo me submeto a pretensa autoridade deles. Para que seguir um apóstolo humano quando temos como Supremo Apóstolo o próprio Senhor Jesus. Vejamos: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (Hb 3:1). A ele sim, toda a minha adoração, submissão, serviço e a minha própria vida.
Jabesmar Guimarães

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